Espaço de divulgação da historia e cultura da localidade de Pascoal, no concelho de Viseu em Portugal. Da autoria e responsabilidade de Delfim Carlos R. Almeida
quinta-feira, 30 de abril de 2020
CAPELA SANTA LUZIA DO MONTE
A Capela de Santa Luzia do Monte, situa-se no Monte de Santa Luzia – na localidade de Pascoal, no limite da paróquia de Abraveses com a paróquia do Campo de Madalena, sendo de destacar que em 1758 quando ainda não existia a paróquia de Abraveses, já a Capela de Santa Luzia do Monte fazia parte da paróquia anexa a Sé de Viseu e a qual pertenciam também Pascoal, e outras localidades como: Quintela de Orgens, São Martinho de Orgens, Travassós de Orgens, Orgens, Vildemoinhos, Balça e Aguieira. A paróquia anexa a Sé de Viseu “principia pela Capela de Santa Luzia e finaliza junto á catedral desta cidade... Esta capela e ermida de Santa Luzia está colocada como se disse no mais alto cume deste empinado monte, onde se faz um plano bem capaz de nele se formarem três regimentos de infantaria para a parte nascente ao meio dia” (Oliveira, João Nunes – Noticias e Memorias Paroquiais Setecentistas I, Viseu, paginas 199 a 202 - Viseu 2005.). A designação de Santa Luzia do Monte surge para fazer a distinção entre as festas a Santa Luzia que também se realizam nas localidades de Abraveses e de Vila Nova do Campo.
A capela de Santa Luzia surge no século XVII em substituição de uma outra sob a invocação de São Gens “em cujo sítio é tradição teve S. Gens a sua capela” (Oliveira, João Nunes – Noticias e Memorias Paroquiais Setecentistas I, Viseu, páginas 199 a 202 - Viseu 2005.). Da capela de S. Gens ainda não foram encontrados vestígios arqueológicos além dos documentos escritos e como tal poderá só ter havido apenas uma substituição de orago de S. Gens por Santa Luzia.
Em 1758 a Capela de Santa Luzia é assim descrita pelo padre José Mendes de Matos, pároco na Sé de Viseu, “está colocada de norte a nascente, cuja porta principal olha ao norte e atravessada ao meio dia, a outra fica nas espaldas do altar e olha a nascente e cuja fábrica é de pedra miúda e argamassa e cal. Os cunhais são de boas pedras lavradas no antigo, o altar está metido no grosso da parede que tem boas aduelas de cantaria e parede mestra é de testa lavrada e as ombreiras da porta principal são feitas ao modo Romano; não tem retábulo, o altar é todo de boas pedras lavradas; tem só a imagem da gloriosa santa que é de barro encarnado e tem na mão esquerda um prato com os olhos nele postos, e a direita quase posta em punho o que ainda mostra com se nela tivesses palma insígnia do martírio” (Oliveira, João Nunes – Noticias e Memorias Paroquiais Setecentistas I, Viseu, paginas 199 a 202 - Viseu 2005.).
Desta descrição, do século XVIII, há três fatores que nos indicam que o edifício da Capela de Santa Luzia do Monte, não é o mesmo da atualidade!
O primeiro fator é a posição geográfica da capela que no século XVIII nos diz que a orientação da capela era de norte para sul e a atual é de nascente para poente. O segundo é a porta principal da capela no século XVIII esta virada ao norte e a atual está virada a poente. O terceiro é a existência de duas portas no século XVIII e na atualidade só tem uma.
Em 1862 Capela Santa Luzia do Monte estava em ruínas e foi “reconstruída por subscrição pública dos habitantes de Pascoal por iniciativa de António Coelho Duarte,” (Coelho, José – Memoria Viseu I, página. 428, Viseu 1941) já com a localização geográfica da atualidade.
Em 1890 festa em honra de “Santa Luzia, no Outeiro do mesmo nome era feita no antecedente ao domingo de Pentecostes” (Leal, Pinho – Portugal antigo e moderno, dicionário de todas as cidades, vilas, freguesia de Portugal e grande número de aldeias, volume 12, pagina 1540, Lisboa 1890).
Assim se manteve ao longo dos anos, até 1911, quando foi promulgada a Lei da Separação entre o Estado e a Igreja Católica em que a Capela de Santa Luzia do Monte passou a estar dependência na administrativa da Junta de Freguesia de Abraveses. A dependência administrativa da Junta de Freguesia de Abraveses, não foi pacífica e provocou um conflito grave entre os mordomos da capela de Santa Luzia do Monte, da localidade de Pascoal e a Junta de Freguesia de Abraveses que acabou por ser resolvido pela autoridade administrativa exterior à freguesia de Abraveses: o Administrador do Concelho de Viseu como o demonstram as atas da Junta de Freguesia de Abraveses do ano de 1914. “Não tendo comparecido o vogal da comissão transata Bernardino Vale dos Santos, de Pascoal... a fim de prestar contas da Capela de Santa Luzia do Monte e de fazer a entrega das chaves e demais pertenças da capela” extrato da ata da Junta de Freguesia de Abraveses de 08 Janeiro de 1914. Na ata seguinte descrimina-se os pertences a entregar e o fim a que se destinam “ entregar as chaves e quatro libras em ouro que um devoto deu para a capela a fim de se fazerem consertos na dita capela” – ata da Junta de Freguesia de Abraveses de 11 Janeiro de 1914. O conflito continuou e “ Pelo presidente foi comunicado que em nome da junta convocara para esta sessão o cidadão, João de Figueiredo de Pascoal e que este lhe respondera que não viria senão a mandato da autoridade administrativa” nesta mesma data a Junta de Freguesia de Abraveses oficiou ao “ Excelentíssimo Administrador do Concelho de Viseu para proceder de maneira que a junta tomasse posse administrativa da Capela de Santa Luzia do Monte”- ata da Junta de Freguesia de Abraveses de 31 Janeiro1914.
O conflito só terminou em Fevereiro de 1914 com a entrega das chaves e pertences, não à Junta de Freguesia de Abraveses mas a outra entidade, “O presidente declarou que o cidadão João Figueiredo de Pascoal fizera a entrega na Administração do Concelho de Viseu da chave da Capela de Santa Luzia do Monte e de quatro libras em ouro” transcrição da ata da Junta de Freguesia de Abraveses de 08 Fevereiro de 1914. A capela de Santa Luzia do Monte foi devolvida à Paroquia de Abraveses em 22 Maio 1944, conforme consta do auto de entrega.
A festa religiosa sempre animada e muito concorrida pelas localidades vizinhas do Monte de Santa Luzia, foi proibida por o Bispo de Viseu, D. José da Cruz Moreira Pinto na década de trinta do século XX, pois os mordomos desrespeitaram a proibição do bispo de fazer a festa religiosa sem foguetes. A capela ficou interdita ao culto religioso e festa acabou.
O temporal seguido de ciclone no ano de 1941 levantou o telhado da capela e esta ficou ao abandono. O Pascoalense Francisco Caiado à data sacristão na igreja de Pascoal recolheu a imagem da Santa Luzia levou-a para Igreja de Pascoal assim como os restantes haveres da capela. Durante quarenta e três anos a capela esteve em ruína e num estado de total abandono.
Em 1984 Capela de Santa Luzia do Monte foi reconstruída fruto do esforço da Câmara Municipal de Viseu e da Companhia dos Fornos Elétricos, entidade que explorou o quartzo no Monte de Santa Luzia entre os anos de 1961 a 1986. O edifício manteve a traça antiga com a porta principal virada a poente e apenas ganhou mais segurança mas mesmo assim já foi objeto de alguns assaltos
Em Pascoal a iniciativa pertenceu ao Conselho Diretivo de Baldios de Pascoal que organizou a procissão solene que em 08 de Julho de 1984 que transportou o andor com imagem de Santa Luzia da Igreja de Pascoal para a Capela de Santa Luzia do Monte. A partir desta data a festa em honra de Santa Luzia é organizada por a Comissão Festas de Santa Luzia do Monte, e passou a fazer-se sempre no segundo domingo de Julho de cada ano.
O calendário religioso celebra a festa Santa Luzia no dia 13 de Dezembro de cada ano e neste dia já foi tradição, pelo menos no século XVIII, fazer a festa no dia oficial que na atualidade caiu em desuso “é muito milagrosa como mostra o inumerável concurso que a esta ermida vem em treze de Dezembro, dia em que a igreja católica celebra o seu martírio” (Oliveira, João Nunes – Noticias e Memorias Paroquiais Setecentistas I, Viseu, paginas 199 a 202 - Viseu 2005). A festa religiosa em honra de Santa Luzia do Monte, realiza-se no segundo domingo de Julho é muito concorrida por fiéis vindos da cidade de Viseu e lugares vizinhos e tem sido assim ao longo dos anos.
Texto de Delfim C. Rodrigues de Almeida
Pascoal 1 Maio 2020
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